OS SINAIS
Uma
das coisas que mais me chamou a atenção, quando me comecei a interessar pela
política, foram os sinais do comportamento humano em relação aos políticos, aos
partidos e ao próprio sistema de governo. Na minha mente sempre reaccionária,
não foi novidade sentir-me convidado a ler a realidade a partir duma
consciência crítica.
Conhecer
e falar com pessoas de todas as gerações, com os pais, os filhos (como eu) e os
netos do 25 de Abril de 1974, foi para mim a melhor universidade, o melhor
livro, o melhor documentário, a que eu podia recorrer e continuo a recorrer. As
pessoas transmitem-nos mensagens que muitas das vezes nem sabem que o fazem,
dizem-nos qual é a sua ideologia política, o porquê, o porque votam ou o porque
não votam. Elas mostram-nos o seu conhecimento, a sua ignorância, a sua
indiferença ou a sua preocupação. Elas revelam-nos como são manipuláveis,
influenciáveis ou inflexíveis.
O
comportamento humano não é assim tão complexo, ele pode é ser objecto de
múltiplas interpretações, dependendo dos interesses que as fomentam. Se a isto
acrescentarmos que em jogo estão enormes forças ocultas de transformação e de
manipulação, condicionando as pessoas a comportamentos forçados, talvez isso é
que por vezes dificulta a sua interpretação.
Estas eleições
Europeias de 2019, revelaram-nos tanto que só os mais distraídos ou aqueles que
estão limitados por condicionalismos políticos não conseguem vislumbrar os
sinais.
Olhemos para as seguintes tabelas, nelas existem várias
conclusões que podemos retirar:
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Resultados de 2014
|
Resultados de 2019
|
Diferença
|
Inscritos:
|
9.702.657
|
10.786.068
|
+1.083.411
|
Votantes
|
3.283.610
|
3.314.414
|
+30.804
|
Não
votaram
|
6.419.047
|
7.471.654
|
+1.052.607
|
Em Branco
|
144.951
|
140.949
|
-4.002
|
Nulos
|
100.506
|
88.960
|
-11.546
|
TOTAL:
|
6.664.504
|
7.701.563
|
1.037.059
|
No Estrangeiro
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Resultados de 2014
|
Resultados de 2019
|
Diferença
|
Inscritos
|
244.986
|
1.441.570
|
+1.196.584
|
Votantes
|
5.129
|
13.812
|
+8.683
|
Não votaram
|
239.857
|
1.427.758
|
+1.187.901
|
Em Branco
|
150
|
174
|
+24
|
Nulos
|
35
|
78
|
+43
|
TOTAL:
|
240.042
|
1.428.010
|
+1.187.968
|
A primeira conclusão
é que a abstenção não subiu, pelo contrário
diminuiu, se considerarmos apenas o número de inscritos de 2014. Ou
seja, como se sabe o número total de eleitores inscritos aumentou com
mais 1.196.584 portugueses, por via do recenseamento automático, se subtrairmos
1.427.758 de abstencionistas estrangeiros ao número total de
abstencionistas (nacionais + estrangeiros) 7.471.654, podemos verificar que a abstenção
baixou de 6.419.047 (em 2014) para 6.043.896.
E é essa diferença de cerca de um milhão de eleitores a
mais que faz a abstenção ser maior em percentagem mas de facto ser menor em número absoluto de
votantes.
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Resultados de 2014
|
Resultados de 2019
|
Diferença
|
CDU - PCP-PEV
|
416.446
|
228.156
|
-188.290
|
B.E.-Bloco de Esquerda
|
149.628
|
325.533
|
+175.905
|
Soma:
|
566.074
|
553.689
|
-12.385
|
A segunda
conclusão, onde é que vocês acham que o Bloco de Esquerda foi roubar eleitores? Não
existe novidade aqui, um PCP envelhecido ideologicamente, cheio de militantes
com o pé para a cova e um líder com o discurso da “cassete camarada” contra um
partido fresco, moderno, representantes femininas simpáticas, bonitas, cultas,
inteligentes, um discurso aberto, compreensível. Que outra coisa seria de
esperar, dos simpatizantes do comunismo senão saltar de um partido gasto para
outro novo e moderno?
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Resultados de 2014
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Resultados de 2019
|
Diferença
|
L-Livre
|
71.602
|
60.575
|
-11.027
|
PCTP/MRPP
|
54.622
|
27.223
|
-27.399
|
PTP
|
22.531
|
8.640
|
-13.891
|
MAS
|
12.442
|
6.641
|
-5.801
|
|
|
TOTAL:
|
-58.118
|
A terceira
conclusão a esquerda não ganhou. É também evidente, independentemente
do Bloco ter ganho mais votantes porque os foi roubar ao PCP, que os dois
juntos perderam 12.385 votantes. Terão saltado
para o PS? Em resumo a Esquerda não ganhou, muito pelo contrário!
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Resultados de 2014
|
Resultados de 2019
|
Diferença
|
PS
|
1.033.158
|
1.106.328
|
+73.170
|
A quarta
conclusão, o PS apenas roubou votos à esquerda. Se somarmos 12.385 de votantes que fugiram do PCP e não foram a
correr votar no Bloco, porque não devem ter gostado muito daquela “brincadeira
dos professores” em que o PCP e o Bloco se juntaram ao PSD e deslumbraram no PS
um momento de responsabilidade política (Esqueceram os incêndios, as greves,
etc…), mais os 58.118 cansados do Livre, do
PCTP/MRPP do PTP e do MAS, ou seja da esquerda em geral, ficamos com 70.503 de
eleitores, que com mais uns “pozinhos” dos novos inscritos deram os tais 73.170 a mais, de votantes no PS. Será isto uma
grande vitória?... Não me parece!
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Resultados de 2014
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Resultados de 2019
|
Diferença
|
PPD/PSD.CDS-PP Aliança Portugal
|
909.932
|
|
|
PPD/PSD
|
|
727.224
|
|
CDS-PP
|
|
205.106
|
|
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SOMA:
|
932.330
|
+22.398
|
ALIANÇA
|
|
61.753
|
|
|
SOMA:
|
994.083
|
+84.151
|
A quinta
conclusão, a direita tradicional não perdeu. Quando olhamos para algo,
devemos contemplar o seu todo. Em 2014 o PSD e o CDS concorreram juntos tiveram
909.932 votos, considerando que ambos voltavam a concorrer juntos este ano,
afinal teriam tido mais
22.398 votantes, e não nos podemos esquecer que Santana Lopes saiu do
PSD para criar o Aliança levando consigo muitos militantes, possivelmente os
61.753. Somando todos estes votantes dá o resultado de 994.083, ou seja um aumento de 84.151
pessoas. Se estes partidos tivessem concorrido juntos, tal como o fizeram em
2014, quem pode afirmar
que tiveram uma derrota?
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Resultados de 2014
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Resultados de 2019
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Diferença
|
MPTPartido da Terra (Marinho Pinto)
|
234.603 votos
|
|
|
PDR(Marinho Pinto)
|
|
15.790
|
-218.813
|
Nós , Cidadãos (Paulo Morais)
|
|
34.672
|
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A sexta conclusão,
é que já não existem salvadores da Pátria! Marinho Pinto o homem que
quando ainda era Bastonário dos Advogados apregoava à abstenção e que falava
muito mal do projecto europeu e da classe política em geral, vestiu o fato de
político e mudou com tamanha hipocrisia, toda a sua retórica. Marinho Pinto que
denunciou o salário "vergonhoso" dos eurodeputados mas que faltou à
sessão que votou propostas de redução. O ex-eurodeputado, que quando chegou a
Bruxelas em 2014 e se queixou do salário mensal de 20 mil euros, reafirmou que
as suas declarações foram “deturpadas”.
“O dinheiro que me dão não o deito fora, mas não é isso
que está em causa. O que está em causa é que se pague tanto a deputados para
fazerem aquilo que fazem e sobretudo para representarem politicamente os
eleitores”, argumenta Marinho Pinto. Afinal, Marinho Pinto quis renovar o
mandato de eurodeputado.
Talvez por isso, é que Paulo de Morais não alcançou o
resultado pretendido, pois com este tipo de falsos heróis os portugueses estão
demasiado desiludidos. Afinal de que serviu a Associação Frente Cívica senão de
trampolim para mais uma candidatura, agora a de eurodeputado?
PPM
|
17.732
|
|
|
PPV
|
12.017
|
|
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BASTA (Chega+PPV+PPM)
|
|
49.496
|
+19.747
|
PNR
|
15.036
|
16.165
|
+1.129
|
A sétima
conclusão, os portugueses não gostam de conservadorismos, nacionalismos, muito
menos de reizinhos!
Eu confesso que simpatizo com histórias de príncipes e princesas, sou
apaixonado por castelos e museus, aprecio muita coisa que os nossos
antepassados fizeram em prol da pátria, e até sou cristão, provavelmente até
poderia identificar-me com este grupo de partidos mas não é o caso. Em primeiro
lugar, o tempo dos Reis acabou e o argumento que nos países monárquicos vive-se
melhor é mera falácia, afinal o que faz o rei ou rainha nesses países senão ser
uma mera figura, um símbolo, uma marioneta nas mãos da burguesia, igual a
qualquer Presidente? Em segundo lugar, outrora Portugal foi uma grande Nação,
um Império até, mas esse tempo acabou e a geopolítica mundial mudou completamente,
portanto ser nacionalista não faz sentido nenhum nos nossos tempos. Estamos no
séc. XXI, para quê regredir agora, quando falta tão pouco para a Democracia ser
verdadeiramente conquistada?
O aumento de 19.739 votantes na coligação Basta mais os
1.126 no PNR, que significado poderá ter senão a resposta de um pequeno grupo de cidadãos,
revoltados com os imensos casos de corrupção, abuso de poder e desnorte
político de há 45 anos a esta parte e que desejam por vias mais radicais
colocar ordem nisto tudo?
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Resultados de 2014
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Resultados de 2019
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Diferença
|
PND
|
23.046
|
|
|
PDA
|
5.300
|
|
|
POUS
|
3.695
|
|
|
TOTAL:
|
44.483
|
|
|
PAN
|
56.363
|
168.501
|
+112.138
|
PURP
|
|
13.582
|
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A oitava conclusão
é que os partidos que defendem nichos da população jamais irão longe mesmo
quando por vezes estão na moda. O caso do PURP que se assume
como representante de todos os reformados, e tem por isso um público-alvo e a
defesa de interesses específicos de uma parte do eleitorado. Por último o caso
do PAN que defende os animais, mais até do que as pessoas, mas quem não gosta
de câezinhos e gatos fofinhos?
Não me parece que o PURP venha a competir
no campeonato principal dos grandes partidos, até porque com a idade da reforma
cada vez maior, o seu eleitorado não andará cá por muito tempo (desculpem a
piada).
Já o
PAN parece-me ser um partido que se não fizer asneira, (parece-me é que
brevemente a irá fazer, basta só aceitar o namoro do PS para se coligarem) irá
capitalizar imensos votos de todas as frentes politicas, tais são as causas que
defende como também a sua postura política. Nestas eleições muito provavelmente
foi buscar uma mão cheia de votantes desagradados com Marinho Pinto e de todos
os partidos que este ano deixaram de concorrer. Contudo a sua limitação política
quanto â defesa extremista dos animais irá condicionar o seu crescimento, e no
dia que queira flexibilizar essa defesa, simplesmente deixará de fazer sentido
a sua existência.
CONCLUSÂO:
Em conclusão, perceber os motivos
que levam o povo a votar ou a abster-se é uma tarefa simples pois os sinais do
seu comportamento são-nos revelados com clareza, basta para isso olhar para os
números. Esses sinais revelam-nos que muitos votam por respeito aos partidos e
ideologias, é como pertencer a um clube de futebol, jamais se muda de clube. Alguns
forçados por pressões familiares, outros por pressões sociais, outros porque
muitas vezes votam, em desesperada fuga, a um mau desempenho do partido de que
sempre gostaram e não porque acreditam lá muito no que escolheram, mas à falta
de melhor. Muitos outros eleitores, por esse interior, como temos conhecimento,
que vão votar naquele partido que “patrocina” o autocarro para os levar às
urnas, e que lhes der uns miminhos (esferográficas e bandeirinhas) de
preferência com a cor em que devem votar, (não vão eles ser analfabetos, burros
ou ignorantes). Também temos aqueles (cada vez menos) que ainda acreditam em milagres,
na vinda do D. Sebastião e em todo o tipo de salvadores da pátria. Em suma, porque
acreditam nas promessas dos políticos, e em 45 anos de democracia
representativa mesmo as desilusões sendo inúmeras, por masoquismo continuam a
fazê-lo, já que ainda não lhes foi apresentada uma alternativa de regime melhor,
e tal como um prisioneiro que só lhe servem comida estragada não tem
alternativa melhor do que comer o que lhe dão, quem vota também se resigna ao
que tem, (a ilusão deste tipo de democracia).
Já os abstencionistas têm também
motivações diversas e uma delas não é mentira que muitos preferem ir para a
praia, para o campo ou ficar em casa a dormir, indiferentes a tudo e a todos.
Estes só percebem de futebol e é o futebol que os faz vir para a rua, são completos
inúteis para a sociedade e se pagam impostos é porque são obrigados, democracia
ou ditadura para estes é igual desde que não os afecte. Mas outros abstêm-se
porque vão ficando cada vez mais informados, mais esclarecidos sobre como
funciona mal este tipo de democracia (democracia representativa), vão se
libertando das amarras sociais, familiares e partidárias e porque cada vez vão
ficando mais desiludidos com este sistema democrático, estes cidadãos são
abstencionistas que se interessam por política, apenas querem outro sistema de
governo e se não votam é por retaliação ao que está mal. A verdade é que para
estes abstencionistas votar neste sistema e nestes políticos não é uma atitude cívica
muito menos democrática, para eles atitude cívica e verdadeiramente democrática
é votar em referendos ou petições. Porque diabo haveriam de votar nestas
eleições europeias se a entrada de Portugal no Euro não foi referendada, se o
memorando da Troika não foi referendado?
Se é de Democracia que falamos,
temos de ler os sinais e eles dizem-nos que
o Povo na sua maioria não está bem, quererá a mudança do regime? Eu
penso que sim!
Sotnas Drago
Dados:
www.europeias2019.mai.gov.p